Memórias
e momentos felizes não se deitam fora, não se esquecem, não desaparecem nem
deixam de existir, não se trocam, não se alugam nem se vendem. Ficam no nosso
pensamento e no nosso coração para sempre. Porque estas palavras? Porque desde
sempre tive uma enorme facilidade em trocar de carro, de emprego, de roupa, de
telemóvel de computador e de todos os bens materiais em geral, excepto um. Tenho
dificuldade em deixar uma casa, um lar, um jardim, um local onde fui feliz. Em
toda a minha vida existiu apenas uma casa da qual eu me despedi com facilidade porque vivi nela momentos menos bons e deixá-la para trás proporcionou-me
harmonia, bem-estar e paz de espírito. Mas regra geral, seria com o coração
muito pesado que eu ia abandonar uma casa onde cresci e fui feliz. As casas da
minha infância continuam por isso a ser minhas, e só a custo eu me separaria
delas. A casa dos meus pais, onde eu passei a adolescência e o início da minha
vida adulta, será minha e não tenho intenções de a vender, a não ser que a vida
me obrigue a isso. E se o fizesse, tenho a certeza que seria com o coração
despedaçado e cheio de tristeza por ter de me separar de um local onde fui tão
feliz, que tem o meu toque, onde tenho as melhores memórias com todos os meus
animais de estimação, onde alguns deles descansam eternamente no jardim, debaixo
da maior árvore. Foi nesta casa que eu passei tardes em trabalhos de grupo para
a faculdade, foi também nela que eu fiz as melhores festas de verão com os meus
amigos, que eu percebi que me estava a apaixonar por alguém, que fui pedida em
casamento, foi aqui que eu vi a minha barriga crescer durante 9 meses, deitada
na cama de jardim, a aproveitar tardes de sol enquanto a Margot me lambia os
pés, pois ela ainda estava viva nos primeiros 3 meses gravidez, que vi os olhos
dos futuros avós a brilharem de felicidade à medida que os meses iam passando e
que se aproximava o dia do parto. Tenho intenção de ver crescer o meu filho
nesta casa, vê-lo a partilhar momentos com os avós, a paciência com a qual a
minha mãe lhe vai ensinar o nome das flores, das árvores e dos legumes. Os
sabores que ele vai descobrir, as tardes de sesta à sombra e os lanches de
aniversário na casa de madeira no fundo do jardim. Aos 6 meses de idade, o meu
filho já tem momentos especiais nesta casa, já observa todas as plantas e
flores que o rodeiam quando passamos as tardes no jardim, já quer cheirar as
aromáticas plantadas pela avó e já tomou os melhores banhos da sua vida. E
quero que ele continue a crescer nesta casa que já foi minha e que agora é dele
também. Não percebo as pessoas que se separam de uma casa como se faz o
check-out num hotel, não percebo um filho que deixe os pais venderem uma casa
cheia de histórias e memórias, por ser mais prático. Não consigo acreditar que
se abdique de toda uma vida de recordações em troca de mais uns euros. Não
percebo.
Que texto lindo, intimista! Muitas pontes entre nós, querida, muitas!
ResponderEliminarBeijo
Obrigada Nina. Sim, também penso que sim. Temos muitas coisas em comum, principalmente o que diz respeito aos valores e à família, e a forma de estar e de encarar a vida :)
EliminarBeijo grande
Caramba, texto mais lindo
ResponderEliminarSónia
Taras e Manias
Adorei!
ResponderEliminarxoxo
http://estilohedonico.blogspot.com.es/
Também tenho dificuldade em me despedir de locais onde fui feliz, talvez por isso me esteja a ser dificil lidar com tud isto....
ResponderEliminarBjxxx
Podes estar a passar por um momento menos bom, mas vai passar, vais ver. Passa sempre, por mais difícil que seja, acaba sempre por passar e a nossa alma acaba por sarar :)
EliminarBeijos
Bonito texto :) gostei de ler, e considero-me uma pessoa muito nostálgica em relação a locais também, e percebo perfeitamente o que é deixar um lugar com tantas memórias para trás porque tem mesmo de ser, custa imenso.
ResponderEliminarSim, concordo que quando tem mesmo de ser, quando nada se pode fazer para guardar essa casa, temos mesmo de ir embora e evitar olhar para trás. Não percebo é aquelas pessoas que se separam de uma casa cheia de memórias só para ficarem com mais uns euros no banco.
EliminarSim, eu percebo o que está a dizer. São escolhas :/
EliminarEu percebo o que dizes no teu texto, mas eu também sou muito desprendida de lugares, talvez porque ainda durante a infância fiz algumas mudanças de casa. A que mais me custou foi na adolescência e veio associada a uma mudança de 190º, na casa, na escola... De resto, a coisa que mais me aborrece em mudar de casa é mesmo as mudanças de tralha :P
ResponderEliminarestenaoeumbloguedemoda.wordpress.com
Eu adoro mudanças, aproveito sempre para deitar fora a tralha e comprar novas peças, mas gosto de ficar com as casas ;)
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